Relações Interpessoais - Agentes, Intencionalidades e Contextos Educativos

Relações Interpessoais - Agentes, Intencionalidades e Contextos Educativos
Matisse, A dança

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Interaccionismo simbólico - Síntese e tópicos de orientação

● George Herbert Mead – filósofo da Universidade de Chigago que construi uma teoria sobre a formação da mente (mind) e do ego (self) a partir das relações entre indivíduos no seio dos grupos em que vivem naturalmente.
● A teoria tem o nome de Interaccionismo Simbólico e foi exposta na obra Mind, Self e Society, publicado postumamente a partir dos apontamentos dos alunos de Mead.
● Do ponto de vista metodológico a Interaccionismo simbólico defende a relevância da observação naturalista (observação das interacções dos indivíduos no seu meio natural), desvalorizando as metodologias quantitativas, centradas na aplicação de questionários estandartizados.
TESES CENTRAIS:
 Mente (mind) e Ego (self) são produtos da vida em grupo, construídos a partir de uma base biológica e fisiológica.
 Os humanos agem em relação às pessoas e coisas com base nos significados que essas coisas ou pessoas assumem para eles.
Os significados resultam do processo de interacção social, do modo como o indivíduo interpreta esse processo e, por sua vez, influenciam novos processos de interacção.
MENTE:
- Natureza social
- Surge e desenvolve-se a partir da interacção social.
- O desenvolvimento acontece primeiro por meio de gestos que, na interacção, assumem função simbólica e, posteriormente pela comunicação simbólica mediada pela linguagem. Deste modo, linguagem gestual/corporal e linguagem verbal combinam-se nos processos de interacção. É no próprio processo que adquirem significado e, os significados codificados e as atitudes decorrentes vão constituir os conteúdos mentais ( mente) que serão mobilizados e permitirão a comunicação em interacções futuras.
A mente tem uma natureza social:
«Temos que olhar a mente, portanto, como surgindo e desenvolvendo-se no âmbito do processo social, no âmbito da matriz empírica das interacções sociais. […] Os processos de experiência que o cérebro humano consente só são tornados possíveis para um grupo de indivíduos em interacção: só para organismos individuais que são membros de uma sociedade; não para o organismo individual isolado de outros organismos.
A mente surge no processo social apenas quando esse processo como um todo entra, ou está presente, na experiência de qualquer um de dados indivíduos envolvidos nesse processo. Quando isto ocorre, o indivíduo torna-se autoconsciente e tem uma mente; ele apercebe-se das suas relações com esse processo como um todo, e com os outros indivíduos que nele participam consigo; e apercebe-se desse processo como modificado pelas reacções e interacções de indivíduos – incluindo ele próprio – que o estão a realizar.»
(MEAD,.1934 citado por BARATA, 1974)

Bibliografia:

BARATA, O.S. (1974), Introdução às ciências sociais, Vol.1, Lisboa, Bertrand, pp.189-195

Griffin, E. (2006). A First Look at Communication Theory. McGraw-Hill (6ª ed.) http://www.afirstlook.com/main.cfm

Isabel Gouveia ( Em 14 de Abril de 2010)

Interaccionismo Simbólico - Breve Caracterização

Teoria criada por George Herbert Mead (1863-1931) e desenvolvida por Herbert Blumer (1900-1987), ligados à chamada escola de Chicago que defende como pressuposto central que as pessoas agem em relação às coisas baseando-se no significado que essas coisas têm para elas; e estes significados são resultantes da sua interacção social e modificados por sua interpretação.
O interaccionismo está associado à escola filosófica do pragmatismo, critica «a crença na infalibilidade da estandardização dos questionários e a arbitrariedade - mascarada de certeza - existente nas variáveis adoptadas pelos defensores das metodologias quantitativas. Para os interaccionistas, não há factos em si, exteriores aos indivíduos. O papel do investigador não é estabelecer nem descobrir um conjunto de factos mas sim observar atentamente os processos sociais patentes nas interacções directas entre os actores sociais, já que a acção social contém abertamente o seu próprio sentido. Analisar uma interacção remete para as condições particulares em que ela ocorre. Para os interaccionistas essas condições deixam ao actor social uma margem de manobra, ao contrário do que defendem os funcionalistas, dominantes no panorâma científico do momento em que surge o interaccionismo.»

interaccionismo simbólico. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2010. [Consult. 2010-04-06].

Interdependência, Aceitação e Reciprocidade

A Interdependência, entendida como «condição natural da vida social [e] atributo de valor que deveria orientar as interacções entre pessoas e grupos» (Del Prette, 2007:217) é um dos traços essenciais do ser humano que, só se realiza plenamente na interacção com outros, num sistema de relações que lhe possibilita a descoberta da sua singularidade e a actuação de criação conjunta de si e dos sistemas em que se encontra incluído. O mesmo será dizer que se nenhum homem se faz sozinho, também nenhum sistema humano, entendido como um todo, pode prescindir do contributo dos diferentes indivíduos que o compõem.


A Interdependência produz mudanças geradoras de maior bem estar no indivíduo e na sociedade se se objectiva em atitudes de aceitação, reciprocidade e solidariedade, gerando angústia e disrupção se se concretiza em atitudes de rejeição que poderão despoletar actos de violência.
A aceitação manifesta-se no reconhecimento do valor do outro e no respeito pela diferença, implica olhar e ouvir, dar atenção, compreender o ponto de vista do outro, praticar a empatia. A reciprocidade na aceitação constitui um verdadeiro ideal ético para as relações humanas: aceito o outro e o outro aceita-me, comunicamos e crescemos em conjunto, mantemos as nossas singularidades e pontos de vista, mas dialogamos e mudamos em conjunto.

A incapacidade de aceitar o outro manifesta-se em atitudes de rejeição, de não reconhecimento do ponto de vista do outro, podendo conduzir à marginalização.

A predisposição para atitudes de aceitação ou rejeição encontra raízes no padrão de vinculação vivenciado na infância, no contexto familiar. Crianças que desenvolveram uma vinculação segura, são mais autónomas, manifestam uma boa auto-estima e, tendencialmente, manifestam propensão para a aceitação do outro. Sentindo-se seguras para a exploração dos ambientes que as circundam, tornam-se mais receptivas a novos pontos de vista, não temem a diferença, desenvolvendo-se como indivíduos mais flexíveis, com maior capacidade de adaptação à mudança, manifestando uma maior resiliência.



No entanto, mesmo quando a infância é marcada pela falta de uma vinculação segura, o sistema de vinculação pode ser activado, quando o adolescente ou o adulto encontram na sua trajectória possibilidade de estabelecer relações de apoio emocional. É nestes casoso que se evidencia o papel importante que o professor pode ter na alteração de trajectórias de vida desfavoráveis.


Bibliografia:

Costa, M. Emília e MATOS, Paula M. (2007). Abordagem sistémica do conflito. Lisboa: Universidade Aberta.


Isabel Gouveia ( Em 27 de Março de 2010)

Relações Interpessoais - Conceitos de Afiliação e Vinculação

O estudo das Relações Interpessoais tem longa tradição em Psicologia, atravessando diferentes referenciais teóricos – comportamentalismo, cognitivismo, vertente psicodinâmica, humanismo, vertente transpessoal e terapêuticas actuais de inspiração holística. A visão mais comum ( e mais antiga) é de que as dificuldades interpessoais decorrem de factores intra-individuais, no entanto, abordagens sistémicas têm vindo a substituir uma visão linear, procurando a compreensão do funcionamento de cada sujeito considerando uma multiplicidade de factores, ultrapassando uma lógica simplista de busca de “culpados” e “inocentes”, “vencedores” e “vencidos”.
A assumpção das Relações Interpessoais como objecto de estudo da Psicologia surge associada ao conceito de «afiliação» - característica da espécie humana enquanto espécie gregária que procura a companhia de outros membros da espécie criando melhores condições de sobrevivência e adaptação ao meio.
«Para sobreviver o homem se voltou para o outros, desenvolvendo capacidades de cuidar dos filhos e dos demais, quando estes estavam sob qualquer tipo de ameaça. Cuidar do companheiro se revelou a chave para a própria sobrevivência, fornecendo o nexo com capacidades posteriores, como a cooperação, a comunicação aprimorada e o jogo (brincadeira).» ( Del Prette, A. e Z. Del Prette, 2007:215)
Os estudos de Bowlby e Ainsworth sobre as relações de vinculação estabelecidas na infância e sua importância para o desenvolvimento de competências para um relacionamento interpessoal, expressam com muita clareza a importância da afiliação para o desenvolvimento equilibrado do indivíduo.
A vinculação é o laço emocional que se desenvolve entre o bebé e uma pessoa em particular, inicialmente a mãe (ou a figura que a substituí) – Díade – e que posteriormente é alargado a outras figuras próximas como o pai e outros adultos significantes. Se na presença destes adultos a criança se sente protegida, ganha um sentido de segurança emocional, criando uma representação de si mesma «como alguém merecedor de atenção e do amor/estima dos outros» (Costa, M.E. e P.M. Matos, 2007:46). Nestas condições há uma base segura, conceito que articula vinculação e iniciativa de exploração do meio ou, dito de outra forma, que apresenta uma vinculação segura como condição para a autonomia e também para a aceitação do outro. Uma vinculação segura na infância é um dos factores de facilitação do estabelecimento de futuras relações interpessoais gratificantes que proporcionam equilíbrio emocional, surgindo também como factor propiciador do sucesso escolar. No entanto, uma vez que as necessidades de vinculação permanecem ao longo da vida, pode acontecer que em qualquer momento do seu ciclo de vida um indivíduo encontre no seu percurso novas figuras de vinculação que lhe possibilitem desenvolver relações emocionalmente próximas e provoquem alterações nos seus padrões de interacção social : será o que acontece, por vezes, nas escolas, quando nas relações professor/aluno, o segundo consegue encontrar no primeiro condições para restabelecer a confiança em si mesmo e nos outros.

Bibliografia:

COSTA, M. E. e P.M. MATOS (2007), Abordagem sistémica do conflito, Lisboa, Universidade Aberta
DEL PRETTE, A.D. e Z.A.P. DEL PRETTE (2007), Psicologia das Relações Interpessoais, Petrópolis, Vozes
FELDMAN, R.S. (2001), Compreender a Psicologia, Lisboa, McGraw-Hill

Isabel Gouveia ( Em 24 de Março de 2010)

quinta-feira, 10 de junho de 2010

RELAÇÕES INTERPESSOAIS NA ESCOLA - ALGUNS PROBLEMAS INICIAIS:

Já Aristóteles na sua obra A Política assinalava que o homem, como animal político, só no seio da comunidade podia realizar plenamente a sua humanidade. De facto, ser homem é sempre, «ser com outros homens», viver em sociedade, aprendendo costumes, regras, hábitos ou saberes mais teóricos e, em simultãneo, questionar, indagar, intervir e modificar todo esse capital cultural de que somos feitos, mudando-nos a nós mesmos e a esse meio humano em interacção com o qual, não somos, mas vamos sendo.

Nesse conjunto humano que a todos nos forma no inevitável processo de socialização duas instituições surgem como fundamentais na actualidade: a família e a escola.

No início deste percurso numa unidade curricular intitulada «Relações interpessoais: agentes, intencionalidades e contextos educativos» inúmeras questões poderiam ter sido colocadas como ponto de partida. Atendendo à minha experiência profissional há algumas que assumem particular relevância:

1 - Na qualidade de professora como poderei modificar o relacionamento interpessoal com os alunos de modo a fomentar comportamentos promotores do sucesso escolar e do equilíbrio pessoal?

2 - No relacionamento com as famílias como modificar as crenças dos pais quando estes não encaram a escola como uma condição para o sucesso e a qualidade de vida dos seus filhos?

Na verdade, esta última questão é um dos problemas que mais me tem preocupado nos últimos anos. Muitas vezes, são os próprios pais, pouco escolarizados, que encaram com naturalidade o abandono dos estudos por parte dos filhos. Não formulam expectativas mais elevadas e os jovens, vendo legitimada na família a sua atitude de desinteresse pela escola, facilmente resolvem qualquer situação de dissonância cognitiva resultante das crenças divergentes transmitidas pelos professores, a favor daquilo que traz benefícios imediatos: trocam a escola por um emprego, mesmo que precário, ou pela ilusão do mesmo, iludidos com esta pretensa passagem para o mundo dos adultos e com a promessa de uma autonomia que, sem a formação adequada, dificilmente alcançarão.

Existirá um meio de, mediante uma intervenção intencional no âmbito das relações e interacções mudar este tipo de situação e promover uma valorização da escola e da formação que esta ministra de modo a garantir uma formação de qualidade e uma autonomia efectiva dos indivíduos?

Isabel Gouveia (Em 9 de Março de 2010)