Relações Interpessoais - Agentes, Intencionalidades e Contextos Educativos

Relações Interpessoais - Agentes, Intencionalidades e Contextos Educativos
Matisse, A dança

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Relações Interpessoais - Conceitos de Afiliação e Vinculação

O estudo das Relações Interpessoais tem longa tradição em Psicologia, atravessando diferentes referenciais teóricos – comportamentalismo, cognitivismo, vertente psicodinâmica, humanismo, vertente transpessoal e terapêuticas actuais de inspiração holística. A visão mais comum ( e mais antiga) é de que as dificuldades interpessoais decorrem de factores intra-individuais, no entanto, abordagens sistémicas têm vindo a substituir uma visão linear, procurando a compreensão do funcionamento de cada sujeito considerando uma multiplicidade de factores, ultrapassando uma lógica simplista de busca de “culpados” e “inocentes”, “vencedores” e “vencidos”.
A assumpção das Relações Interpessoais como objecto de estudo da Psicologia surge associada ao conceito de «afiliação» - característica da espécie humana enquanto espécie gregária que procura a companhia de outros membros da espécie criando melhores condições de sobrevivência e adaptação ao meio.
«Para sobreviver o homem se voltou para o outros, desenvolvendo capacidades de cuidar dos filhos e dos demais, quando estes estavam sob qualquer tipo de ameaça. Cuidar do companheiro se revelou a chave para a própria sobrevivência, fornecendo o nexo com capacidades posteriores, como a cooperação, a comunicação aprimorada e o jogo (brincadeira).» ( Del Prette, A. e Z. Del Prette, 2007:215)
Os estudos de Bowlby e Ainsworth sobre as relações de vinculação estabelecidas na infância e sua importância para o desenvolvimento de competências para um relacionamento interpessoal, expressam com muita clareza a importância da afiliação para o desenvolvimento equilibrado do indivíduo.
A vinculação é o laço emocional que se desenvolve entre o bebé e uma pessoa em particular, inicialmente a mãe (ou a figura que a substituí) – Díade – e que posteriormente é alargado a outras figuras próximas como o pai e outros adultos significantes. Se na presença destes adultos a criança se sente protegida, ganha um sentido de segurança emocional, criando uma representação de si mesma «como alguém merecedor de atenção e do amor/estima dos outros» (Costa, M.E. e P.M. Matos, 2007:46). Nestas condições há uma base segura, conceito que articula vinculação e iniciativa de exploração do meio ou, dito de outra forma, que apresenta uma vinculação segura como condição para a autonomia e também para a aceitação do outro. Uma vinculação segura na infância é um dos factores de facilitação do estabelecimento de futuras relações interpessoais gratificantes que proporcionam equilíbrio emocional, surgindo também como factor propiciador do sucesso escolar. No entanto, uma vez que as necessidades de vinculação permanecem ao longo da vida, pode acontecer que em qualquer momento do seu ciclo de vida um indivíduo encontre no seu percurso novas figuras de vinculação que lhe possibilitem desenvolver relações emocionalmente próximas e provoquem alterações nos seus padrões de interacção social : será o que acontece, por vezes, nas escolas, quando nas relações professor/aluno, o segundo consegue encontrar no primeiro condições para restabelecer a confiança em si mesmo e nos outros.

Bibliografia:

COSTA, M. E. e P.M. MATOS (2007), Abordagem sistémica do conflito, Lisboa, Universidade Aberta
DEL PRETTE, A.D. e Z.A.P. DEL PRETTE (2007), Psicologia das Relações Interpessoais, Petrópolis, Vozes
FELDMAN, R.S. (2001), Compreender a Psicologia, Lisboa, McGraw-Hill

Isabel Gouveia ( Em 24 de Março de 2010)

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