Relações Interpessoais - Agentes, Intencionalidades e Contextos Educativos

Relações Interpessoais - Agentes, Intencionalidades e Contextos Educativos
Matisse, A dança

sexta-feira, 23 de julho de 2010

RESPOSTA (NÃO CONCLUSIVA) ÀS NOSSAS QUESTÕES INICIAIS

Iniciei este portefólio em formato de Blogue apresentando duas questões orientadoras que aqui recordo:
1 - Na qualidade de professora como poderei modificar o relacionamento interpessoal com os alunos de modo a fomentar comportamentos promotores do sucesso escolar e do equilíbrio pessoal?

2 - No relacionamento com as famílias como modificar as crenças dos pais quando estes não encaram a escola como uma condição para o sucesso e a qualidade de vida dos seus filhos?
Em jeito de balanço caberá apresentar aqui um esboço de resposta, construído a partir do nosso percurso nesta unidade curricular e na articulação entre os conhecimentos adquiridos e a prática docente.
Antes de mais ilustrarei o alcance das perguntas apresentando um relato verídico:
Há três anos atrás iniciei um novo percurso profissional como Directora de Turma e professora de duas disciplinas num Curso Profissional de Técnico de Apoio à Infância (Ensino Secundário). A abertura do Curso na escola deveu-se em grande parte à pressão exercida pelo meu Departamento Curricular e sofreu a oposição de alguns sectores do Conselho Pedagógico. Devo dizer que encarei esta nova tarefa com entusiasmo e tive a sorte de trabalhar com uma equipa pedagógica muito empenhada e capaz de trabalhar de forma cooperativa, articulando actividades. Por outro lado, o grupo de 20 alunos que se inscreveu no curso tinha uma boa parcela de alunos muito motivados e cerca de 1/3 tinha já tido experiências de insucesso no Secundário Regular ou em outros Cursos Profissionais, pelo que encaravam este novo curso como uma segunda oportunidade a aproveitar.
O grupo era bastante heterogéneo mas, logo desde o primeiro período a equipa pedagógica aderiu muito bem ao tipo de trabalho que quer eu (como Directora de Turma), quer a Directora de Curso, pretendíamos fazer e que era orientado por três vectores essenciais: actividades práticas e efectiva articulação com o contexto profissional ( visitas a Jardins de Infância, visitas de estudo e espectáculos para o público infantil, conferências na escola com psicólogos e enfermeiras ), forte valorização dos trabalhos de grupo e das aprendizagens cooperativas, desenvolvimento de relações empáticas com os alunos mas articuladas com uma forte responsabilização. Esta “receita” encontrou uma boa adesão junto dos formadores e posso dizer que foi geradora do sucesso dos nossos alunos. Do grupo de 20 alunos que integraram o 10º ano no ano lectivo 2007/2008 , 16 concluiram ontem o 12º ano com sucesso, o que contrasta com o forte abandono que se verifica, habitualmente, nos cursos profissionais da escola. Mais de metade deste grupo de 16 teve classificações acima de 15 valores na Formação em Contexto de Trabalho. Posso dizer que este é um dos trabalhos de que mais me orgulho no meu percurso profissional, pois apesar de só ter acompanhado os alunos até ao final do 11º ano, sei que o meu esforço como Directora de Turma contribui bastante para este quadro de sucesso.
Refiro este exemplo pois ele está fortemente ligado às minhas perguntas iniciais. Como Directora de Turma tive que contactar por diversas vezes com os pais destes alunos e, lembro-me pelo menos de três situações em que tive que convencer os pais a não anularem a matrícula dos filhos pois, perante a primeira dificuldade, os pais achavam que o melhor era que os filhos fossem trabalhar. Claro que os problemas financeiros não são alheios a esta situação e, em todos estes casos eu fiz o discurso do optimismo e da esperança. Apostei em evidenciar as qualidades dos alunos junto dos progenitores e acho que estendi até ao máximo a minha capacidade de intervenção procurando ser, no seio desta rede de interacções – professor, aluno, pai – um factor catalisador da mudança. Note-se que muitos destes pais tem poucas habilitações e concebem como “natural” que os filhos reproduzam a precariedade e pobreza em que vivem. No entanto, acho que, na verdade, precisam que alguém lhes diga que pode ser diferente e que os filhos têm de facto condições para vir a viver melhor, sobretudo quando toda a comunicação social “vende” a ideia da crise e apresenta também muitas vezes as escolas como contextos de desordem e violência. Note-se que estes três jovens que, em dada altura do seu percurso estiveram para desistir por influência dos próprios pais, terminaram de facto o 12º ano e com muito boas classificações na Formação em Contexto de Trabalho.
Claro que muitos casos existem em que os contextos familiares são de tal modo problemáticos que muito pouco se consegue fazer e não podemos deixar de atender à singularidade dos contextos pessoais e à especificidade de cada grupo e sem dúvida que com este grupo se conseguiu um coesão indutora da própria produtividade e uma enorme empatia com os formadores. As “receitas “ que aqui usámos podem não vir a funcionar com grupos distintos, no entanto, elas estão muito próximas daquilo que nesta unidade surge como importante para fomentar climas de aprendizagem promotores do sucesso. Conscientes de que na verdade, não existem receitas infalíveis e que é sobretudo importante não nos limitarmos “à história única” e procurarmos compreender alunos, encarregados de educação e a nós próprios situados num contexto de interacções específicas, concluímos que há algumas pistas que nos poderão ajudar a empreender uma acção transformadora das relações e das aprendizagens nas escolas:
1 – Procurar compreender as acções perspectivando-as a partir do conhecimento das diferentes interacções em que o sujeito participa.
2 – Desenvolver um tom de comunicação empático, sem deixar de fazer notar a necessidade de se cumprirem regras.
3 – Evitar contradições entre a comunicação verbal e a meta-comunicação
4 – Incentivar iniciativas dos alunos promotoras da boa convivência ( festas de natal com professores e alunos, almoços).
5 – Criar ambientes de aprendizagem cooperativa ( aplicando modelos de ensino centrados no trabalho dos alunos e na sua iniciativa como, por exemplo, o modelo da investigação em grupo).
6- Dar feedback positivo aos esforços desenvolvidos e evidenciar os trabalhos em que há sucesso, junto dos alunos e dos encarregados de educação.
7 – Realizar acções de articulação com a comunidade e alargar os horizontes de conhecimento.
8 – Promover actividades de aprendizagem diversificadas.
9 – Envolver os alunos em pequenos projectos.
10 – Dar visibilidade ao trabalho bem feito mostrando-o à escola e à comunidade.
11 – Manter a esperança e dar esperança.
Isabel Gouveia

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