Relações Interpessoais - Agentes, Intencionalidades e Contextos Educativos

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Matisse, A dança

quinta-feira, 1 de julho de 2010

SÍNTESE - O CONFLITO NA ESCOLA

Conceito de conflito
As definições de conflito são inúmeras mas, na generalidade, aproximam-se da definição apresentada por Deutsch segundo a qual «o conflito resulta de um percepção divergente de interesses, visões ou objectivos» ( Deutsch, 1973, citado por Costa & Santos, 2007:75). Os conflitos, em si mesmos, são neutros e inevitáveis, assumindo um papel importante enquanto geradores de mudança. Uma adequada gestão dos conflitos, no entanto, é requerida para que se possam maximizar os seus resultados positivos e minimizar efeitos adversos. Constituem resultados positivos do conflito o incentivo à discussão e comunicação aberta e a invenção de modos novos e construtivos para clarificar e resolver as divergências que promovem o crescimento das diferentes partes envolvidas. Como efeitos negativos encontramos a desconfiança, a obstrução à cooperação, a perturbação das relações e o confronto violento.

Conflito na escola
Os conflitos existem mais variados contextos (individuais, interpessoais e intragrupais, internacionais) e são modelados pelos contextos proximais e distais em que ocorrem. No que respeita ao conflito na escola, de acordo com Johnson e Johnson (1995 citado por Costa & Santos, 2007:75)) podemos ordená-lo de acordo com a seguinte classificação:
- Controvérsia – incompatibilidade entre ideias, informações conclusões e teorias.
- Conflito conceptual – incompatibilidade entre informação nova e conhecimentos pré-existente.
- Conflito de interesses – a acção e interesse de uma pessoa obstaculiza a acção e interesse de outra.
- Conflito desenvolvimental – forças opostas de estabilidade e mudança co-ocorrem em actividades incompatíveis entre adultos e crianças.
Um aspecto a ter em conta quando se aborda o conflito na escola terá que ser, necessariamente a dimensão do conflito estrutural e seu reflexo nas relações interpessoais em meio escolar. Entende-se por conflito estrutural «a distribuição desigual de poder e riqueza dentro das e entre as sociedades.» (Costa & Santos, 2007:96) Problemas de desemprego, pobreza e emprego precário reflectem-se no meio familiar, pelo que será impossível assumir uma visão sistémica da vida escolar ignorando esta realidade. Estes aspectos surgem associados a dificuldades de aprendizagem decorrentes da impossibilidade dos adultos exercerem junto da criança a mediação adequada às experiências de aprendizagem, quer por se encontrarem emocionalmente perturbados, quer por não possuírem os instrumentos culturais requeridos.
Apesar da escola não poder, só por si, resolver o conflito estrutural, assumir que o mesmo é irresolúvel, desistindo à partida de qualquer tentativa construtiva para a sua ultrapassagem só resultará no eventual agravamento das suas consequências negativas.
Se adoptarmos o ponto de vista da escola de Palo Alto, considerando a escola como um sistema comunicacional onde as interacções conduzem os sujeitos à produção de significados quer acerca de si mesmos, quer acerca do meio, poderemos identificar algumas disfunções na comunicação interpessoal que são geradoras de conflito: a escalada, a rigidificação e a comunicação paradoxal. Estamos perante uma situação de escalada quando numa relação simétrica (entre pares) surge uma luta pelo poder que gera uma tensão crescente – conflitos entre alunos e entre professores configuram este tipo de situação. Já a rigidificação surge no contexto escolar quando a instituição se revela incapaz de mudar os padrões transacionais de modo ajustá-los às necessidades dos alunos. Se, neste âmbito, considerarmos a existência de conflito estrutural, decorrente de situações de pobreza, a rigidificação é inevitável, já que muito dificilmente a escola poderá, por si só, gerar estratégias e mobilizar meios para responder às necessidades dos seus alunos. Por último, outra disfunção da comunicação que poderá gerar conflito estará associada à comunicação paradoxal que ocorre quando os conteúdos verbais de comunicação (o conteúdo da mensagem) e os sinais enviados pela comunicação não verbal ou metalinguagem.

Referências Bibliográficas:
Costa. M.E. & Matos, P.M. (2007), Abordagem sistémica do conflito, Lisboa: Universidade Aberta
Isabel Gouveia Silva ( em 19 de Maio de 2010)

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